Em mais de quatro horas de depoimento, Kátia Giane Pacheco Siqueira, que trabalhava como cozinheira e no bar da boate Kiss, chorou em um momento da sua fala. Ela, que teve 40% do corpo queimado e ficou 46 dias hospitalizada, é uma das 636 vítimas que conseguiram sobreviver ao incêndio que matou 242 pessoas em Santa Maria, em 27 de janeiro de 2013.
Kátia, que está grávida de uma menina, depôs no júri da Kiss, que começou nesta quarta-feira (1º), em Porto Alegre. A ex-cozinheira da Kiss descreveu momentos de terror na madrugada do incêndio e do período em que esteve hospitalizada em Porto Alegre.
A ex-funcionária relatou que trabalhava há cerca de seis meses na boate, de quinta-feira a sábado, e que em várias ocasiões a Kiss ficava lotada.
“Tinha dias que a gente não conseguia caminhar lá dentro”
“Tinha dias que a casa estava lotada, a gente não conseguia caminhar lá dentro”, afirmou a sobrevivente, que passou 21 dias em coma.
Na noite da tragédia, havia uma festa de cursos superiores da cidade para arrecadação de dinheiro para as formaturas. Kátia disse que não parou “um minuto”. Ela encontrou uma amiga, que acabou morrendo, e combinou de se encontrarem mais tarde, na boate.
No entanto, o gerente não a dispensou porque havia muita gente na Kiss. Sobre o momento em que começou o incêndio, Kátia contou que estava na cozinha quando houve queda de luz.
“Eu escutava gente gritando fogo, fogo”
”Eu escutava gente gritando ‘fogo, fogo’ e outros dizendo que era uma briga. Eu não me toquei porque não enxergava nada”, recordou Kátia.
Nesse momento, colegas que trabalhavam no bar pularam os balcões, enquanto ela conseguiu sair pela porta da cozinha. Foi nesse instante que a ex-funcionária viu pessoas tentando ir para o lado dos banheiros por pensarem que era a porta de saída.
“Tinha gente empurrando, imaginando que seria a saída”
“Tinha gente empurrando, imaginando que seria a saída”, lembrou Kátia, que chegou a avisar que a saída era em outro local. Pelo menos um rapaz ouviu o recado.A sobrevivente contou ainda que “tinha gente” em cima dela. Kátia conseguiu se agarrar na perna de alguém até que foi puxada para o lado de fora da boate.
Como não estava se sentindo mal, ela disse que não precisava de atendimento médico. Colegas insistiram para que ela fosse para o hospital. Colocada em uma ambulância, a cozinheira foi levada para o hospital. Por fim, ela acabou passando mal e desmaiou.
Sobrevivente chora ao falar de hospitalização
Transferida para Porto Alegre, Kátia ficou 46 dias hospitalizada, sendo 21 deles em coma. Ela foi entubada e quando os médicos tentaram desentubá-la, o quadro regrediu.
Ao relatar essa parte da sua história, Kátia chorou. Ela disse ter ouvido que os médicos não acreditavam que ela iria sobreviver. A recuperação teve o acompanhamento da mãe, que deu força à filha para que ela resistisse. A partir daí, o quadro da paciente foi melhorando.
Devido às queimaduras, Kátia contou ao juiz que fez cinco cirurgias para enxerto de pele, além de cirurgias reparativas por conta das cicatrizes. Por causa da dor dos ferimentos, ela era medicada com morfina.
Depois de responder perguntas do juiz Orlando Faccini Neto, Kátia respondeu questionamentos do Ministério Público e da defesa dos réus. No depoimento, a sobrevivente também falou sobre como funcionava a Kiss e sobre os sócios.
Quatro réus respondem pela tragédia
Quatro réus respondem pelas 242 mortes pelas lesões em 636 sobreviventes. Os empresários Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr eram sócios da Kiss. Já os réus Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Bonilha Leão eram integrantes da banda Gurizada Fandangueira, que animava a festa universitária na noite da tragédia.
O incêndio foi provado pelas faíscas de um artefato pirotécnico acionado por integrantes da banda Gurizada Fandangueira.
Como acompanhar o júri
O júri prossegue com o depoimento de outra sobrevivente – Kellen Giovania Leite Ferreira. Nesta quinta-feira (2), estão previstos mais depoimentos. Em Santa Maria, a Prefeitura instalou um telão na Tenda da Vigília, no Centro da cidade. Familiares, sobreviventes e populares acompanharam o primeiro dia de julgamento.A partir desta quinta-feira (2), o telão será instalado no Clube Comercial, também no Centro de Santa Maria. Também é possível acompanhar pelas redes sociais do Ministério Público do Rio Grande do Sul: twitter.com/mp_rs, instagram.com/ministeriopublicors e facebook.com/mprgs. Para assistir pelo Youtube do Tribunal de Justiça do Rio Grandeo do Sul (TJRS), clique aqui.
A expectativa da Justiça é que o julgamento demore cerca de duas semanas devido à complexidade do caso e ao número de pessoas que serão ouvidas. FONTE https://paralelo29.com/