Quando a sentença do juiz Orlando Faccini Neto foi proferida, Flávio Silva, presidente da Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), chorava abraçado ao advogado Pedro Barcellos de mãos dadas com a esposa, Ligiane Righi da Silva. Flávio superou os julgamentos da sociedade, os problemas de saúde, os desafios da luta por Justiça, mas jamais vai conseguir superar a perda da filha, Andrielle, 22 anos, morta no incêndio. Logo após a leitura da pena dos quatro réus acusados pelo incêndio, Flávio, em um círculo de familiares e sobreviventes, falou sobre o fim de um ciclo:- Meu agradecimento a cada mãe e cada pai. Passamos por momentos muitos difíceis, enfrentando recursos e decisões, mas conseguimos trazer esses réus para o júri popular. Nós não temos momentos a comemorar, apenas a conquista da Justiça. Para mostrar para quem nos tachou de vingativos que isso nunca foi verdade. Nós sempre lutamos pela Justiça e isso prevaleceu. É tanto amor que temos pelos nossos filhos, que esse sentimento mesquinho de vingança e rancor não tem lugar no nosso coração. Essa vitória é da população. Para que sirva de lição para alguns empresários que agora sabem que se fizerem algo errado poderão ser punidos. Para que nunca mais se repita! A luta para que a tragédia não caia no esquecimento ainda permanece. Ao ser questionado sobre os próximos passos, Flávio diz que terá tempo para decidir e relembrou dos momentos difíceis que passou nos dias que antecederam o julgamento:
- Foi muito dificíl. Teve momentos que eu achei que não ia conseguir, mas eu pensava que precisava ficar firme e vivo para acompanhar o desfecho dessa história. Esse problema que agravou minha saúde tem nome de endereço. Isso prova que somos mais fortes do que tudo. Não vejo ética em um profissional que tenta colocar um pai como testemunha do assassino da própria filha. Eu sofri muito durante dois anos com essa história. Ele acabou desistindo da meu testemunho, há alguns meses. Ele me provocou durante os debates, sem que eu pudesse ter direito à defesa. Ele sabe que sou muito explosivo. Tive que aguentar, mas não podia dar motivo para qualquer nulidade ou abandono do plenário.
Flávio esteve em plenário, por diversas vezes, com a imagem de Nossa Senhora Aparecida, presente do cantor sertanejo Daniel. Ao fim do júri, em frente ao Foro Central, ele desceu as escadas a carregando nas mãos. Ao lado da esposa, volta para casa depois de quase nove anos com a sensação de dever cumprido. - Não vamos ter nossos filhos de volta, mas vamos conseguir evitar que outros jovens morram. FONTE https://diariosm.com.br/