Nesta terça-feira, a Delegacia de Proteção ao Idoso e Combate à Intolerância (DPicoi) de Santa Maria encerrou o inquérito que investigava o caso de Ana Lúcia Santos, 48 anos, a agente de portaria ameaçada por morador em um prédio da área central da cidade. O morador que aparece nas imagens discutindo (logo abaixo) com a funcionária foi indiciado por injúria racial e ameaça pela Polícia Civil. Agora o inquérito será encaminhado para o Ministério Público, que vai decidir se denuncia ou não o indiciado.Segundo a delegada Débora Dias, titular da DPicoi, a investigação levou em conta o relato da agente de portaria, que disse em depoimentos que se sentiu humilhada pelo morador.
- Além da vítima, foram ouvidos o sindico do prédio, a ofical de justiça e o morador acompanhado de seu advogado. O indiciado negou ter a ameaçado de agressão física e de ter proferido ofensas racista à agente de portaria. Mas, chegamos à conclusão pelo indiciamento do morador por injúria racial e ameaça. Não só pelas imagens, mas também pelos outros depoimentos, considerando o peso da palavra da vítima nesses casos. Agora o inquérito será remetido ao Judiciário - detalha Débora.
O advogado de Ana Lúcia, Patrik Teixeira, disse à reportagem que já esperava o indiciamento do morador:
- Acreditamos que o Ministério Público vai denunciar o morador de forma rápida, não tem como ser diferente. Com isso, iremos tomar as medidas cíveis reparatórias cabíveis. Esperamos que o Judiciário gaúcho vai tramitar de forma célere essa ação pena para que no final, reste o acusado condenado. Só assim o Estado irá dar uma resposta à sociedade, bem como impedir que novos casos desse tipo voltem a acontecer - pontua Teixeira.
O Bei tenta contato com o morador ou com o seu advogado, para ouvir a versão da defesa. RELEMBRE
Em 17 de fevereiro de 2022, Ana Lúcia dos Santos, 48 anos, que trabalha como agente de portaria de um prédio no centro de Santa Maria, foi agredida por um dos moradores do local . O morador seria um empresário. O caso aconteceu por volta das 11h de uma quinta-feira, em um prédio na Rua Doutor Bozano. Um vídeo com as agressões viralizou nas redes sociais.
Conforme ocorrência registrada na Delegacia de Polícia de Pronto-Atendimento (DPPA), o motivo das ameaças teria sido o fato de que ela teria permitido o acesso de um oficial de Justiça ao interior do prédio. A agente de portaria teria aberto a porta do condomínio e deixado o oficial de Justiça ir até o apartamento do empresário para notificá-lo de um processo. No vídeo, é possível ver o homem saindo do elevador e, ao largar um copo com bebida no balcão, aponta o dedo para a funcionária do condomínio e a agarra pelo pescoço. Ela é derrubada na cadeira e o morador, com a mão fechada, faz menção de golpeá-la com um soco. Ele larga a funcionária e a ameaça por mais um tempo, entra no elevador e volta para o apartamento. A funcionária alega que precisou lembrar ao homem que ele estava sendo filmado para não ser agredida por ele com um soco.
- Depois dele ter me empurrado, ele ia me dar um soco. Foi neste momento que, quando vi que ele levantou a mão pra me bater, eu gritei que estávamos sendo filmados. Aí, ele recuou e começou a me xingar de negra, que eu não prestava para aquele serviço. Afirmou que, se aquilo ocorresse novamente, ele iria me surrar - relata Ana.
Segundo Patrik Teixeira, advogado da vítima, este é o primeiro caso de injúria racial seguida de agressão física registrado em Santa Maria.
- Este caso tomou repercussão (nacional) rápida porque, além de ser agressão contra uma mulher, contém na nossa visão uma possível injúria racial. A gente acredita que o inquérito seja finalizado o mais rápido possível para que seja encaminhado ao Judiciário para que possamos tomar as medidas cabíveis na esfera cívil e o Estado dê uma resposta adequada para que isso não se repita - pontua Teixeira.DESDOBRAMENTOS
Funcionária há 12 anos na portaria do local, Ana recebeu férias de 30 dias da empresa. Segundo o síndico do condomínio em que ocorreu a agressão, desde o dia da agressão, o morador não foi mais visto pelos vizinhos. Os condôminos vão marcar uma assembleia para tentar expulsar o homem que aparece nas imagens agredindo a funcionária. O proprietário do imóvel que o agressor aluga também estaria providenciando uma ordem de despejo.