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CICLONE BOMBA VAI SE FORMAR NO ATLÂNTICO SUL
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Publicado em 26/04/2022

Uma área de baixa pressão vai se deslocar da Patagônia para o Centro da Argentina, onde deve começar a se aprofundar na província de Buenos Aires, onde a pressão deve cair a valores de 996 hPa a 1.000 hPa no final desta terça e na madrugada da quarta-feira. Será o ponto inicial de formação da bomba meteorológica. A interação entre correntes de jato com o avanço de uma massa de ar frio pela Argentina e o escoamento de uma corrente de jato em baixos níveis da atmosfera vinda da Bolívia com ar muito quente vai levar, então, o centro de baixa pressão a um processo de impressionante intensificação e aprofundamento com deslocamento extremamente rápido para o Sul.

No final da quarta-feira, o sistema já deverá estar na altura das Ilhas Malvinas, no Atlântico Sul, a Leste da Patagônia, com pressão no seu centro entre 950 hPa e 955 hPa, cerca de 40 hPa a menos que no começo do dia, quando estava na altura de Buenos Aires, cerca de dois mil quilômetros ao Norte. Na quinta-feira, o ciclone empreenderá uma trajetória mais a Leste e vai alcançar as Ilhas Geórgia do Sul. O modelo europeu projeta pressão atmosférica central de apenas 936 hPa, ou seja, um ciclone extremamente intenso e que vai produzir vento com força de furacão com rajadas de 150 km/h a 200 km/h e ondas enormes no oceano na região mais ao Sul do Atlântico.

Para se ter ideia do que representa uma pressão de 936 hPa, são valores que se costuma ver apenas em ciclones extratropicais extremamente profundos que se formam no Estreito de Bering, perto do Alasca, e mais ao Norte no Atlântico junto à Groenlândia e a Islândia. O recorde de menor pressão no Mar de Bering foi de 920 hPa em um ciclone junto ao Alasca, em 2020. No Norte do Atlântico, a pressão desceu a 913 hPa em ciclone de 1993. O QUE É UM CICLONE BOMBA Um ciclone bomba ou bomba meteorológica ocorre quando um ciclone nas latitudes médias se intensifica rapidamente” com a queda muito acentuada da pressão atmosférica e um fortalecimento muito rápido da tempestade. A chamada bombogênese ou ciclogênese explosiva, a formação do ciclone bomba, se dá quando um centro de baixa pressão tem uma queda da pressão atmosférica de ao menos 24 hPa (hectopascais que é uma medida de pressão) em 24 horas. Assim, não é a intensidade que define um ciclone bomba e sim a rápida queda da pressão em seu centro.Algumas tempestades extratropicais podem se intensificar tão rapidamente quanto 60 hPa em 24 horas e alguns ciclones do tipo bomba chegam a formar um olho, semelhantes ao centro de um furacão que é um ciclone tropical. Um ciclone (tempestade não tropical ou furacão) é essencialmente uma gigantesca coluna de ar ascendente que gira no sentido horário sobre o Hemisfério Sul. Quando uma corrente de jato mais intensa se sobrepõe a um sistema de baixa pressão em superfície em desenvolvimento, estabelece-se um padrão de feedback que faz o ar quente subir a uma taxa crescente. Isso permite que a pressão caia rapidamente no centro do sistema.
À medida que a pressão cai rapidamente, os ventos se fortalecem ao redor da tempestade. Na prática, a atmosfera tenta equilibrar as diferenças de pressão atmosférica entre o centro do sistema e a área ao seu redor. O enorme gradiente (diferença) de pressão acaba por gerar o vento muito forte. QUAL A DIFERENÇA PARA O CICLONE BOMBA DE 2020 Entre os dias 30 de junho de 2020 e 1º de julho de 2020 o Sul do Brasil experimentou um dos mais episódios graves de tempo severo da sua história com um ciclone bomba que se formou no Atlântico Sul. O fenômeno deixou 13 mortos, sendo onze em Santa Catarina, uma no Paraná e uma no Rio Grande do Sul, saldo de vítimas superior ao do furacão Catarina de 2004 e muito raramente ocorre num evento de tempestade na parte meridional do Brasil. O impacto na rede elétrica do Sul do Brasil foi sem precedentes em danos.

O centro de baixa pressão que deu origem ao ciclone bomba avançou do Norte da Argentina para o Uruguai e o Rio Grande do Sul entre os dias 29 e 30 de junho de 2020, causando chuva forte e temporais com volumes muito altos de precipitação que somados ao de um segundo ciclone uma semana depois resultaria em grandes enchentes no Rio Grande do Sul. O Rio Taquari, com a chuva dos dois ciclones, passou por uma das três maiores cheias em 150 anos e o Guaíba em Porto Alegre teve uma das maiores cheias desde a grande enchente de 1941. Em 1 de julho de 2020, o ciclone já estava sobre o Oceano Atlântico a Sudeste do Rio Grande do Sul. Foi sobre o Atlântico que o centro de baixa pressão se tornou um ciclone na sua fase madura e adquiriu característica de ciclone bomba, ou seja, com a queda da pressão atmosférica mínima central de ao menos 24 hPa em um intervalo de 24 horas. Assim, quando o centro de baixa pressão estava sobre a área continental o sistema ainda não era um ciclone bomba. Isso somente veio a ocorrer uma vez que a área de baixa pressão atingiu o oceano.

A enorme diferença deste ciclone bomba de abril de 2022 para o do começo de julho de 2020 é o posicionamento. Os impactos foram enormes no Sul do Brasil dois anos atrás porque a ciclogênese explosiva se deu muito perto da região, a Sudeste do Chuí.

Desta vez, a bomba meteorológica vai se formar a uma grande distância da parte meridional do território brasileiro, o que não significa que deixará de impactar as condições meteorológicas no Sul do país. QUAIS SERÃO OS IMPACTOS NO SUL DO BRASIL Os efeitos da formação e maturidade deste ciclone bomba devem se dar em dois momentos no Sul do Brasil. No primeiro, o aprofundamento da pressão atmosférica no Centro argentino vai intensificar muito uma corrente de jato em baixos níveis no final do dia de hoje e durante a primeira metade da quarta-feira.

Este corredor de vento entre 1000 e 2000 metros de altitude vai proporcionar energia para a formação de tempestades muito severas entre o Centro da Argentina e o Uruguai no final desta terça e na quarta-feira. No Rio Grande do Sul, trará ar muito quente para o território gaúcho com calor intenso nesta quarta em diversas regiões e máximas em algumas cidades acima de 35ºC. O ar quente virá com vento do quadrante Norte que pode soprar com rajadas fortes a muito fortes em pontos do Oeste, do Centro e do Sul gaúcho. No segundo momento, o ciclone será responsável por organizar uma frente fria que vai trazer intenso temporais e chuva volumosa para pontos do Centro da Argentina e do Uruguai nesta quarta-feira, com previsão de a instabilidade atingir o Oeste e o Sul gaúcho.

No decorrer da quarta, com a muito rápida troca de massas de ar, de quente para mais fria, o vento deve virar para Sul com rajadas fortes após um começo de dia com forte vento Norte. O vento pode ser mais forte no Oeste e no Sul na troca de massas de ar. A frente fria vai levar instabilidade para grande parte do Rio Grande do Sul na quinta, quando se espera chuva mais generalizada. Os maiores volumes de chuva entre esta quarta a quinta-feira devem se dar mais uma vez no Oeste e no Sul gaúcho, onde em alguns municípios os acumulados já estão entre 150 mm e 200 mm.

Uma vez que o ciclone vai estar posicionado muito ao Sul, o resfriamento deve ser maior sobre a Argentina. O ar frio vai trazer declínio da temperatura nos estados do Sul e até em São Paulo no final da semana, mas não devem ser esperadas temperaturas muito baixas e sim mais um refresco para o calor.

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