A MetSul Meteorologia alerta que uma abrangente onda de tempestades precederá o ingresso no começo da semana de uma atipicamente intensa massa de ar frio para esta época do ano. Cenário de tempestades severas é esperado para o Centro da Argentina, Uruguai, Centro-Sul do Brasil, Paraguai e até na Bolívia. É muito alto o risco de tempestades de grande severidade com vendavais e granizo de variado tamanho, além de chuva localmente forte a intensa.
Os temporais terão início em províncias do Centro da Argentina ainda no final deste sábado e na madrugada deste domingo. As nuvens muito carregadas de temporais tendem a se formar inicialmente ao Norte da província de Buenos Aires, Sul de Santa Fé e o Sul de Entre Ríos. A seguir, a frente avança para o Sudoeste e o Sul do Uruguai, atingindo as áreas de Montevidéu e de Colonia. No decorrer da manhã do domingo, as tempestades tomam conta do Uruguai. No Rio Grande do Sul, a frente deve chegar à região de fronteira com o Uruguai entre o meio e o final da manhã. Entre a tarde e a noite, a atmosfera se instabiliza com o deslocamento do sistema frontal em grande parte do Rio Grande do Sul. Assim, a fim de se evitar o risco ou de chuva ou de temporal, o melhor horário para votar neste domingo na maioria das cidades do Rio Grande do Sul será no período da manhã e/ou no começo da tarde.
A frente, então, atingirá o Paraguai, os demais estados do Sul do Brasil, o Centro-Oeste e parte do Sudeste no decorrer as segunda-feira, mas se adverte que já antes, da tarde para a noite do domingo, muitas áreas destas regiões já terão pancadas de chuva e temporais isolados devido ao ar muito quente e instável que se prevê em dinâmica semelhante ao que ocorre em meses de verão. A frente fria é tão poderosa, considerando que será impulsionada por uma massa de ar frio muito intensa e abrangente, atipicamente forte para novembro, que o sistema frontal conseguirá alcançar algumas áreas do Norte e até do Nordeste do Brasil, como o interior da Bahia, com chuva e temporais na terça e na quarta. O sistema, por exemplo, deve provocar muita chuva em pontos de Goiás, Tocantins, Minas Gerais e da Bahia. VENTO NORTE FORTE ANTES DA FRENTE A frente fria será precedida por uma corrente de jato em baixos níveis. Trata-se de um corredor de vento nas camadas baixas da atmosfera. Tal como as principais correntes de jato, as polares e subtropicais, embora em menor escala e geralmente em velocidades mais lentas. Da mesma forma, são o resultado de gradientes (diferenças) de temperatura em altitudes mais baixas, que levam a um gradiente de pressão e um fluxo de ar perpendicular a esse gradiente.
Estas correntes de jato trazem ar quente, de forma que horas antes da chegada da chuva e dos temporais a temperatura vai estar muito alta com máximas ao redor ou acima de 35ºC em alguns pontos, especialmente dos vales no Rio Grande do Sul. Na atuação de jatos de baixo nível ocorre vento Norte forte a intenso não associado a temporal e com tempo firme, uma possibilidade para a madrugada e manhã deste domingo principalmente do Centro para o Oeste gaúcho. ELEVADO RISCO DE TEMPESTADES SEVERAS E VENDAVAIS O cenário sinótico será propício para temporais localmente fortes a severos no deslocamento da frente fria pela Argentina, Uruguai, Paraguai e o Centro-Sul do Brasil. O perfil atmosférico será propício para a formação de algumas supercélulas isoladas de tempestade, capazes de gerar fenômenos de grande severidade como granizo de médio a grande tamanho, frentes de rajada com vento muito intenso, correntes descendentes de vento violentas (downbursts) e mesmo alguma atividade tornádica.
Uma das preocupações principais no avanço da frente fria será a ocorrência de vendavais que, em alguns locais, poderão ter rajadas destrutivas acima próximas ou acima de 100 km/h. Com isso, algumas localidades podem enfrentar danos e transtornos por quedas de árvores, falta de luz, destelhamentos e colapsos de estruturas. O granizo igualmente será uma ameaça. Dados de modelos indicam um elevado risco do fenômeno na passagem do sistema frontal.
O risco de temporais é válido para grande parte do Centro-Sul do Brasil no início da semana, mas, pelos dados dos modelos, parece especialmente mais alto na Metade Norte gaúcha, no Oeste e Meio-Oeste de Santa Catarina, na Metade Oeste do Paraná e no Mato Grosso do Sul, além do Paraguai.
Os valores de refletividade projetados pelo modelo WRF da MetSul são muito altos em pontos isolados, o que é condizente com chuva muito forte e alto potencial de tempestades severas por vento e granizo. O modelo indica a passagem destas áreas de instabilidade, que podem ter características de supercélulas de tempestade em alguns locais. No caso dos fenômenos mais severos, em se tratando de ocorrências localizadas, não é possível estabelecer quais cidades registrarão temporais muito intensos, mas apenas delimitar a região de risco. Somente no curtíssimo prazo, em previsão que é denominada em Meteorologia como nowcasting, é possível fazer alertas para municípios específicos a partir do monitoramento meteorológico por radares, satélites e sensores de descargas atmosféricas. CENÁRIO ALTAMENTE PROPÍCIO PARA TEMPO SEVERO Na teoria, um dos cenários de maior perigo para fortes tempestades é o avanço de uma massa de ar frio muito forte sobre uma massa de ar muito quente. Com a pressão atmosférica muito baixa e a presença de corrente de jato em baixos níveis transportando ar quente e gerando padrão divergente de vento na dianteira do sistema. É exatamente o que se terá na prática neste começo de semana.
Uma vez que a chegada da frente vai se dar acompanhada de uma corrente de jato (vento) em baixos níveis da atmosfera não se pode descartar mesmo a possibilidade de tornados. Nos Estados Unidos, por exemplo, frentes frias intensas tardias no final da primavera, em abril e maio, são as que costumam produzir as ondas de tempestades mais severas. Três fatores devem contribuir para o alto risco de vendavais. Um, a frente fria vai se deslocar muito rapidamente e sistemas frontais de rápido deslocamento costumam trazer vento forte. Dois, a pressão atmosférica estará muito baixa, o que acentua o risco de vendavais. Porto Alegre e muitas outras cidades gaúchas devem ter de 995 hPa a 1000 hPa na tarde de domingo, o que são valores baixíssimos. E, três, a frente será precedida por ar muito quente e será seguida por ar muito frio, condição que igual favorece vendavais.
Os índices de instabilidade atmosférica estarão, ademais, muito altos em setores ao Norte do sistema frontal e precedendo a sua chegada, o que é outro indicativo de risco de temporais localmente fortes a severos. Os valores do índice CAPE (Convection Available Potential Energy), por exemplo, são bastante elevados para a tarde e noite deste domingo no Sul do país. CHUVA LOCALMENTE FORTE A INTENSA A MetSul Meteorologia alerta que na passagem da frente fria podem ocorrer temporais com o registro de chuva localmente forte a torrencial que podem trazer altos índices de precipitação em curto período. Estes episódios de chuva forte podem provocar alagamentos em áreas urbanas e ainda inundações repentinas.
O mapa acima mostra a projeção de chuva no Sul do Brasil do modelo de alta resolução WRF até 21h de segunda-feira. Como se observa, os acumulados devem ser muito variáveis no Sul do país com volumes baixos em alguns pontos e muito altos, próximos ou acima de 100 mm, em alguns locais. Estes volumes elevados isolados devem acompanhar os temporais fortes localizados. COMO CONSULTAR OS MAPAS Todos os mapas de chuva neste boletim podem ser consultados pelo nosso assinante (assine aqui) na nossa seção de mapas. A plataforma oferece ainda mapas de chuva, geada, temperatura, risco de granizo, vento, umidade, pressão atmosférica, neve, umidade no solo e risco de incêndio e raios, dentre outras variáveis, com atualizações duas a quatro vezes ao dia, de acordo com cada simulação. Na seção de mapas, é possível consultar ainda o nosso modelo WRF de altíssima resolução da MetSul.
FONTE https://metsul.com/ AUTOR Luiz F. Nachtigall Luiz Fernando Nachtigall é autor de MetSul.com e meteorologista desde 1985 pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Especializado em Meteorologia Aeronáutica pelo Centro Técnico Aeroespacial (CTA), atuou no Ipmet da Unesp e na previsão de tempo nos aeroportos de Belém do Pará, Galeão e Porto Alegre.