O Rio Grande do Sul enfrenta um período muito quente com máximas perto ou acima de 40ºC no estado neste fim de semana, mas cidades dos Campos de Cima da Serra, no Nordeste do estado, registraram frio na madrugada deste sábado como consequência da atmosfera por demais seca. Dados de estações automáticas particulares indicaram na madrugada deste sábado mínimas de 7,9ºC em São José dos Ausentes, 8,9ºC em Cambará do Sul, 10,8ºC em Vacaria, 11,0ºC em Bom Jesus, 11,7ºC em Soledade, 12,8ºC em Getúlio Vargas, 13,4ºC em Lagoa Vermelha, 13,6ºC em São Francisco de Paula e 13,9ºC em Espumoso.
Mesmo na Grande Porto Alegre houve temperatura na madrugada de hoje com mínima de 14,5ºC em Gravataí, o que explica que alguns pontos da área metropolitana tenham amanhecido com formação de neblina que logo se dissipou com a presença do sol. As baixas temperaturas ocorrem em meio a uma massa de ar quente que cobre o Rio Grande do Sul. Ocorre que esta massa de ar é muitíssima seca e trouxe tempo muito aberto com céu predominantemente claro na madrugada.
Tão logo ocorre o nascer do sol, a temperatura nestas cidades que tiveram baixa temperatura para fevereiro na madrugada deste sábado experimentam forte aquecimento e a tarde acaba sendo de calor. A estação de Cambará do Sul, que no fim da madrugada teve 8ºC, no final da manhã já estava com 26ºC. Ar muito seco em altitude, vento calmo e tempo aberto com céu claro explicam estas mínimas baixas mesmo com uma massa de ar quente atuando no Rio Grande do Sul. É o mesmo processo de um deserto com muito frio à noite e tempo quente à tarde. A atmosfera muito seca é determinante neste contexto.
Por que faz frio no deserto à noite? A razão pela qual os desertos áridos – regiões secas que cobrem cerca de 35% da superfície terrestre da Terra – ficam tão quentes e, consequentemente, tão frias, é uma combinação de dois fatores principais: areia e umidade. Ao contrário de uma garrafa térmica, a areia não retém muito bem o calor. Quando o calor e a luz do sol atingem um deserto arenoso, os grãos de areia na camada superior do deserto absorvem e também liberam o calor de volta ao ar, de acordo com um relatório de 2008 do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA em Pasadena, Califórnia. Durante o dia, a radiação da areia da energia do sol superaquece o ar e faz com que as temperaturas subam. Mas, à noite, a maior parte do calor na areia se irradia rapidamente para o ar e não há luz solar para reaquecê-lo, deixando a areia e seus arredores mais frios do que antes. No entanto, esse fenômeno por si só não é responsável por uma queda tão drástica na temperatura. Afinal, quando o sol se põe em uma praia tropical, você não precisa vestir um casaco de inverno. A principal razão para a forte mudança de temperatura é que o ar do deserto é extremamente seco. Em desertos áridos como o Saara e o Deserto do Atacama, no Chile, a umidade — a quantidade de vapor d’água no ar — é baixíssima e, ao contrário da areia, a água tem uma enorme capacidade de armazenar calor. O vapor de água no ar retém o calor próximo ao solo como um cobertor invisível gigante e impede que ele se dissipe na atmosfera. O ar com alta umidade também requer mais energia para aquecer, o que significa que também leva mais tempo para que essa energia se dissipe e para que o ambiente esfrie. Portanto, a baixa umidade nos desertos permite que esses lugares áridos aqueçam rapidamente, mas também esfriem rapidamente. Exatamente o que ocorre no Rio Grande do Sul neste fim de semana com uma massa de ar muitíssimo seca sobre o território gaúcho que acaba proporcionando enorme amplitude térmica em algumas cidades com frio na madrugada e muito calor à tarde. Em áreas de altitude, o ar mais frio (mais denso e pesado) escoa para as baixadas durante o processo de resfriamento noturno. As menores mínimas acabam sendo registradas por estações meteorológicas instaladas nestas baixadas, que se transformam em verdadeiros “poços de frio” em noites de tempo seco, aberto e sem vento quando o ar está muito seco, seja no inverno ou no verão. A previsão da MetSul é de que no começo deste domingo, com a continuidade da atmosfera muito seca e com o tempo aberto, que as mínimas muito baixas voltem a se repetir em setores do Rio Grande do Sul, notadamente em cidades de maior altitude do Norte e do Nordeste do estado. Haverá mínimas novamente de um dígito com as menores marcas na área de São José dos Ausentes. fonte MetSul Meteorologia