Uma área de perturbação tropical deu origem à tempestade ciclônica Mocha sobre o Golfo de Bengala, no Nordeste do Oceano Índico. Conforme as mais recentes projeções dos modelos e de meteorologistas, o sistema pode atingir a costa perto da região fronteiriça de Mianmar e Bangladesh nos próximos dias. A tendência nesta sexta e durante o fim de semana é de intensificação da tempestade com o ciclone Mocha se transformando rapidamente em uma tempestade ciclônica muito severa à medida que se dirige para o Norte e Nordeste em direção ao continente. A tendência é que o sistema atinja terra como um poderoso e violento ciclone tropical, talvez catastrófico.
Segundo a maioria das projeções, Mocha deve tocar terra em Mianmar e perto da fronteira com Bangladesh. Poucos lugares do mundo são de tão alto risco para um ciclone tropical como a que se prevê seja atingida. A zona é conhecida por megadesastres causados por ciclones tropicais. Previsões oficiais do Departamento Meteorológico da Índia e do Joint Typhoon Warning Center projetam vento sustentado de até 170 km/h a 180 km/h quando a tempestade tocar terra, mas com rajadas acima de 200 km/h. Uma vez que as águas perto da costa estão muito quentes há risco de uma rápida intensificação do ciclone com ventos ainda mais fortes do que os hoje projetados pelos serviços de Meteorologia.
Modelos especializados em previsão de furacões como o HWRF indicam um ciclone mostro ao tocar terra com pressão atmosférica ao redor de 900 hPa, valores condizentes com o que seria um furacão categoria 4 intenso ou 5 no Atlântico Norte. Mesmo que enfraqueça antes de tocar terra os seus efeitos ainda devem ser devastadores. O que mais preocupa é que a região onde deve chegar Mocha é uma das de maior densidade populacional do planeta, de construções precárias, com enormes desastres naturais e que ainda passa por um conflito militar com uma ditadura em Mianmar e perseguição a minorias. A região tem apenas 4% dos ciclones tropicais do mundo, mas 80% das mortes por este tipo de ciclone ocorrem justamente no Golfo de Bengala. Olhando para o passado, os temores de grande desastre se justificam. O ciclone Nargis, em maio de 2008, se tornou o segundo ciclone tropical mais mortal já registrado e o mais mortal em Mianmar. Acredita-se que tenha matado mais de 135.000 pessoas. O pior ocorreu há meio século. Em novembro de 1970, o ciclone de Bhola chocou o mundo por suas consequências. A tempestade devastadora chegou ao Paquistão Oriental (atual Bangladesh) e Bengala Ocidental, na Índia, causando mortes em massa com cenas que deixaram o planeta estarrecido. O ciclone Bhola foi o ciclone tropical mais mortal já registrado pela Meteorologia e também foi responsável por um dos desastres naturais (não apenas eventos atmosféricos) mais mortíferos nos tempos modernos. Entre 300 mil e 500 mil pessoas perderam suas vidas, principalmente devido à subida do mar com a maré de tempestade associada ao ciclone que inundou muitas ilhas de baixa altitude do Delta do Rio Ganges.
Bhola foi a sexta tempestade ciclônica da temporada de ciclones do Norte do Oceano Índico de 1970 e a mais forte da temporada. Atingiu uma força igual à de um furacão de categoria 3. Aproximadamente 85% das casas na área foram destruídas ou severamente danificadas, com a maior destruição ao longo da costa. A tempestade destruiu cidades inteiras, como Tazumuddin que perdeu mais de 45% de sua população (167.000 pessoas) apenas no distrito de Thana. Quase 46.000 dos estimados 77.000 pescadores da região morreram no ciclone, e os que sobreviveram ficaram gravemente feridos. Cerca de 65% da indústria pesqueira da região costeira foi arrasada, numa região onde cerca de 80% da proteína consumida provém da pesca. No século 20, sete dos nove eventos climáticos mais mortíferos do mundo foram ciclones tropicais que atingiram Bangladesh. Em 30 de abril de 1991, outro forte ciclone, atingiu Bangladesh, afogando 140.000 pessoas. A essa altura, os sistemas de alerta e evacuação na área haviam avançado a ponto de vários milhões de pessoas poderem ser evacuadas antes da tempestade, caso contrário, prevê-se que o número de mortos teria sido muito maior.