O ciclone que vai atingir o Sul do Brasil entre esta quarta e a quinta (clique aqui e leia o alerta) terá uma característica diferente da maioria dos que impactam as condições atmosféricas na parte meridional do país. O sistema vai começar a se formar sobre terra, sobre o continente, e não sobre o mar. O ciclone bomba de 2020, por exemplo, originou-se sobre o oceano, onde se intensificou por demais rápido. A sua pressão central caiu mais de 24 hPa em 24 horas, o que configurou o que se chama de bombogênese ou formação de bomba meteorológica (ciclone bomba).
O ciclone Yakecan, uma tempestade subtropical, no ano passado, se formou sobre o oceano na costa de Buenos Aires e avançou para a costa gaúcha em trajetória bastante atípica de Sul para Norte. O ciclone de junho passado também se formou sobre o oceano e se deslocou do mar para o continente, o que é incomum, antes de se afastar de terra firme. Um ciclone de grande impacto que se formou sobre o Cone Sul da América se deu entre 11 e 12 de novembro de 1989 e que acabou sendo objeto de diversos estudos acadêmicos posteriores. O episódio gerou perdas econômicas e deixou vítimas na região do Rio da Prata.
O que se espera vai ocorrer agora? Uma área de baixa pressão no Norte da Argentina vai ingressar no Rio Grande do Sul a partir do Oeste e do Noroeste do estado no começo desta quarta. No decorrer do dia, o centro de baixa pressão começa a se aprofundar muito sobre o território gaúcho, dando início a um processo de ciclogênese (formação de um ciclone). Com isso, a pressão atmosférica em superfície vai despencar a valores abaixo de 1000 hPa nesta quarta no estado gaúcho, podendo atingir valores tão baixos de 995 hPa a 996 hPa na redução ao nível do mar. São valores por demais baixos de pressão e poucos frequentes no Rio Grande do Sul, que favorecem forte instabilidade. No final da quarta, o centro do ciclone (da área de baixa pressão) vai estar no Nordeste gaúcho, exatamente sobre a região de Porto Alegre. Por isso, a instabilidade aumenta muito na capital gaúcha e na maior parte do estado da tarde para a noite desta quarta-feira. O modelo europeu projeta apenas 995 hPa de pressão em Porto Alegre no começo da quinta.
Na quinta, o ciclone migra para o mar, onde se intensifica, e estará a Leste do Rio Grande do Sul durante o dia com pressão de 989 hPa. O deslocamento do sistema para Leste-Sudeste será rápido, ou seja, vai se afastar rapidamente do continente, mas pela sua grande intensidade e o seu vórtice de nebulosidade ainda sobre o continente provocará ainda intensa ventania e chuva. Na sexta, o tempo melhora na maior parte do Sul do Brasil com sol e nuvens, mas ainda tem instabilidade com sol e chuva no Leste gaúcho em parte do dia. Não se afasta precipitação invernal no começo do dia nas áreas de maior altitude do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, especialmente entre os Aparados da Serra e o Planalto Sul Catarinense pela circulação ciclônica interagindo com o ar polar. Vento ainda pode ter rajadas esporádicas fortes no começo do dia na costa e nas áreas serrana, mas diminui bastante ao longo do dia que será clássico de inverno com frio.