A MetSul Meteorologia alerta para um sistema meteorológico de alto risco nesta semana que atingirá a Argentina, o Uruguai e o Rio Grande do Sul. Condições particularmente perigosas de tempo severo pode se estabelecer na região na atuação deste sistema com tempo localmente muito severo e alto impacto para a população em diferentes cidades. Enfatizamos que não se trata de uma situação ordinária de verão em que calor forma nuvens de tempestades isoladas, mas, ao contrário, cenário de sistema meteorológico de maior impacto que trará fenômenos fortes a severos em uma extensa áreas e com muito prováveis danos.
O que vai acontecer? Uma baixa pressão em níveis médios e altos da atmosfera avançará dos Andes, da região de Mendoza, para o Centro da Argentina no decorrer da terça-feira, alcançando o Uruguai e o Rio Grande do Sul na sequência até a quarta-feira. Esse tipo de comportamento atmosférico é mais comum de se observar nos meses de outono, quando sistemas segregados de baixa (cut-off low) avançam de Oeste para Leste na América do Sul, causando chuva no deserto do Atacama e depois tempestades com formações de ciclones no Centro do continente.
Esse sistema, entretanto, atuará em janeiro, no período mais quente do ano e sob uma abundante quantidade de ar tropical aquecido e instável. Isso potencializa o risco de fenômenos severos com chuva localmente intensa a extrema e temporais que em alguns pontos podem ser muito fortes a destrutivos. Esta baixa pressão virá acompanhada com ar mais frio que, ao encontrar a atmosfera aquecida, proporcionará a formação de nuvens extremamente carregadas na Argentina, Uruguai e depois no Rio Grande do Sul, que migrarão para o oceano depois.
Ao atingir o Uruguai e o Rio Grande do Sul, baixa pressão se aprofunda em superfície e entra em fase com a baixa pressão em médios a altos níveis, o que vai potencializar os efeitos do sistema com chuva intensa e vento. Haverá ainda uma baixa pressão térmica no Norte da Argentina com ar muito quente, garantindo a energia para as tempestades. Tempestades severas começam pela Argentina e o Uruguai A Instabilidade deve começar pelo Oeste da Argentina, na região do Cuyo, em Mendoza, deslocando-se rapidamente e ganhando muita força ao longo da terça-feira para as províncias do Centro da Argentina como Córdoba, Buenos Aires, Santa Fé e Entre Rios. O cenário será propício para temporais isolados muito intensos na Argentina com queda de granizo de grande tamanho, vendavais intensos com estragos, chuva localmente muito intensa e ainda a possibilidade de alguns tornados. Após, ainda na terça, o sistema de tempestades alcança a região do Rio da Prata e o Uruguai, onde, igualmente, deverá produzir tempestades severas.
À medida que a baixa pressão migra de Oeste para Leste sobre o Uruguai, vai gerar nuvens de tempestades muito intensas com chuva muito forte e tempestades fortes a severas na terça que vão se deslocar para o Rio Grande do Sul ainda na terça. Com uma baixa pressão se aprofundando na costa do Uruguai e do Rio Grande do Sul, fenômenos muito severos de chuva e vento na terça podem atingir muitos departamentos do Uruguai e na sequência, em especial, o Sul gaúcho e a região da Campanha.
Instabilidade na terça afeta mais pontos do Centro, Oeste e o Sul gaúcho. Já na quarta-feira, o centro de baixa pressão de distancia da costa no oceano, mas anda gera chuva e temporais do Centro para o Norte gaúcho, Santa Catarina e o Paraná, o que será favorecido por outra baixa pressão que avança do Norte argentino para o Paraguai. Elevado risco de chuva intensa e vendavais Sistemas desta natureza, no passado, quando atuaram no verão, na grande maioria das vezes foram problemáticos pelas consequências que trouxeram, seja por chuva com volumes altíssimos em algumas áreas como por tempestades de granizo e, sobretudo, vendavais. No Rio Grande do Sul, a influência deste sistema pode gerar chuva excessiva em pontos do estado e ainda tempestades, algumas fortes a severas, na maioria das regiões do território gaúcho entre a terça e a quarta-feira.
É elevado o risco de precipitações intensas com acumulados muito altos, que podem passar de 100 mm em poucas horas, gerando alagamentos e inundações, em algumas cidades. Isoladamente, acumulados ainda mais altos podem ser anotados. O Sul gaúcho e a Campanha, em especial, possuem um risco acentuado de chuva intensa na terça, embora possa ocorrer em pontos de outras regiões. Outra preocupação é com a ocorrência de vendavais. Não são descartadas rajadas de vento perto e acima de 100 km/h com danos na passagem da área de baixa pressão pela Metade Sul gaúcha durante a terça. De acordo com a média dos dados, a zona de mais alto risco seria entre Bagé, Jaguarão, Pelotas, Rio Grande, Santa Vitória do Palmar e Chuí, além de localidades próximas. Em outras regiões do estado, por conta de temporais, há risco de vendavais de forma mais isolada.
Não será vento como de ciclone, que sopra com rajadas fortes a intensas, por 12h a 24h ou mais. O que se espera é vento muito forte a intenso, potencialmente destrutivo em alguns pontos, de mais curta duração e acompanhando as tempestades. O tempo, porém, ainda estará ventoso no Rio Grande do Sul na quarta e parte da quinta quando a baixa pressão já estará no oceano. Eleva o nosso nível de preocupação que a baixa pressão vai avançar em uma atmosfera muito aquecida. Modelos numéricos indicam para o Noroeste do Rio Grande do Sul na terça temperatura em 850 hPa (nível de 1500 metros de altitude) de 23ºC, o que em superfície é temperatura agradável, mas a 1500 metros indica a presença de ar muito quente. Quanto mais quente a atmosfera, maior o potencial de tempo severo. Modelos indicam ainda uma corrente de jato em baixos níveis da atmosfera, com vento de 60 a 70 nós em 1.500 metros no Nordeste da Argentina, Uruguai e o Rio Grande do Sul. Essa componente de vento aumenta o risco de ocorrência de episódios localizados severos de vento, como tornados, risco que consideramos particular alto em especial na Argentina e no Uruguai.
Na quinta-feira, o risco de tempo localmente severo com chuva forte e temporais segue no Norte do Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná com potencial para mais transtornos. Na maior parte do Rio Grande do Sul, o tempo melhora no decorrer da quinta, apesar ainda de chuva isolada. Na área de Porto Alegre e região metropolitana, o risco maior de chuva forte e/ou temporal é no final da terça-feira e ao longo da quarta-feira. Vários modelos numéricos indicam a possibilidade de chover forte a muito forte com elevados volumes na área da capital durante a quarta. Finalmente, enfatizamos que esta é uma análise de risco produzida com base em dados deste domingo, 48h a 72h antes do evento previsto. No verão, a atmosfera é mais instável e sujeita a mudanças, assim podem ocorrer mudanças em prognóstico, de forma que se recomenda ficar atento às atualizações publicadas pela MetSul Meteorologia.
FONTE SOBRE O AUTOR Estael Sias Estael Sias, MSc., é autora de MetSul.com e meteorologista formada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL). Mestre em Meteorologia pela Universidade de São Paulo (USP). Sócia-diretora da MetSul Meteorologia com passagem pelo Grupo RBS, Canal Rural e Defesa Civil de São Paulo.
FONTE MetSul Meteorologia