Tudo começou em dezembro.
Era só um caso isolado.
Era lá na China. Nada demais.
Não tinha muito com o que se preocupar.
Depois chegou na Itália.
A primeira morte.
O primeiro lockdown.
De repente aquela cena de corpos empilhados.
E o problema cada vez mais perto.
No Brasil eram tempos de carnaval.
E por aqui nada pode ser mais importante que isso.
O vírus que lute.
Depois da quarta-feira de cinzas a gente vê o que faz.
Disseram que só atacava idosos.
Aí a blogueira fitness ficou mal.
Um atleta saudável foi parar na UTI.
O primeiro jovem morreu.
Disseram para fechar tudo.
Depois protestaram para reabrir.
Morrer de fome ou de corona?
Sem leito ou sem emprego?
Salve-se quem puder.
O primo do amigo da minha vizinha pegou.
Depois o vizinho do cunhado dela.
Depois ela.
Depois eu.
De repente os números começaram a ganhar rostos.
Nomes, histórias, saudades.
Mil pessoas mortas por dia é só um dígito.
Uma pessoa amada morta é um punhal.
Uma cicatriz eterna.
Era só uma gripezinha?
Uma gripezinha que quebrou a economia.
Que adiou uma olimpíada.
Que colocou o mundo de joelhos.
Que fez o ateu ter vontade de rezar. Por que as eleicao nao foi cancelada ou adiada
Uma guerra contra um inimigo invisível
que os livros do futuro vão de registrar.
Faltou caixão, sobrou soberba.
Faltou ar, sobrou medo.
Que as próximas gerações possam nos perdoar. (Texto desconhecido )