Com queda nas internações, pelo menos sete hospitais da região fecham leitos Covid
saude
Publicado em 06/08/2021
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A queda na demanda por internações de pacientes com Covid-19 faz com que hospitais da região diminuam a disponibilidade de leitos e até mesmo fechem as unidades criadas durante a pandemia. Entre os 19 hospitais da região cadastrados no sistema da Secretaria Estadual de Saúde (SES-RS) que possuem apenas leitos clínicos para tratamento da Covid-19, só um registrava uma internação de paciente contaminado na manhã de quinta-feira. Dos 13 contatados pela reportagem, sete já diminuíram a disponibilidade de leitos ou planejam fazer isso nos próximos dias. Apesar da queda em casos e hospitalizações, a região de Santa Maria recebeu, na quarta-feira, um aviso do comitê Covid-19 do Estado, que significa que é preciso manter os cuidados para que os dados não voltem a piorar.A diminuição das internações também é constatada nas estatísticas oficiais. Nos últimos sete dias, as internações em leitos clínicos caiu 20% na Região Covid de Santa Maria. Na quarta-feira, eram 34 internados na região. Há um mês, eram 119. O mesmo é observado em leitos de UTI, onde a variação semanal foi de -30,3%. Há um mês, eram 124. Agora, são 46.O Hospital de Caridade Dr. Victor Lang, de Caçapava do Sul, é um dos exemplos dessa situação. No começo do mês, a ala covid foi reduzida de 23 para nove leitos. Em todo o mês de julho, foram apenas oito internações por Covid-19, situação bem diferente da observada anteriormente. Em junho, foram 59, e em março, 87. Durante o pico da pandemia, havia 42 pacientes internados ao mesmo tempo. Agora, é apenas um, que deu entrada na noite de quarta-feira. Antes, a ala estava vazia. Com a redução da demanda pela Covid, os leitos, até então exclusivos da doença, foram direcionados para outros casos. Estes sim, por conta do inverno, tiveram a demanda aumentada.
- Antes do inverno, não tínhamos tantas internações clínicas. Agora, o hospital está cheio com as doenças típicas de inverno. Caçapava é uma cidade fria e úmida. Ainda bem que reduziu a demanda da Covid para voltarmos a ter essa disponibilidade dos leitos - avalia a secretária executiva do hospital, Maria Helena Amado.
ADAPTAÇÕES
Para o médico epidemiologista da prefeitura, Marcos Lobato, o fechamento de leitos de internação neste momento não é um problema, já que houve significativa redução da demanda. Segundo ele, os hospitais, principalmente da rede privada, mostraram uma grande capacidade de adaptação e rápida ampliação durante a pandemia. Assim, essas instituições têm condições de retomar esses espaços novamente com agilidade caso seja necessário.
- O que acontece, principalmente, é que as cirurgias eletivas ficaram suspensas por um tempo e, agora, estão retomando. Então muitos desses equipamentos e espaços físicos, antes necessários na totalidade para pacientes com coronavírus, estão sendo destinados, agora, para esses pacientes eletivos. Se, no futuro, a demanda de Covid aumentar novamente, a estrutura para atendimento da doença pode aumentar também. Esse fechamento de alas Covid não quer dizer que a pandemia acabou. É tudo uma questão de gestão hospitalar - analisa Lobato.O médico avalia, ainda, que a redução ajuda a aliviar os gastos de hospitais que estiveram atuando no limite e tiveram aumento do custo de operação nos últimos meses.
- Não faz sentido manter uma estrutura grande só para Covid, se a ocupação está abaixo da metade. O custo é grande. O que aconteceu também foi que muitos profissionais de saúde trabalharam mais de um ano ininterruptamente nos hospitais. Com essa demanda menor, é possível também que alguns consigam tirar férias, por exemplo - afirma.
Segundo o médico, a vacinação é a principal responsável pela redução das internações. Mas, ainda é necessário manter os cuidados por causa das novas variantes do coronavírus.
HOSPITAIS ADOTAM CAUTELA
Outros hospitais de menor complexidade espalhados por municípios de médio e pequeno porte da região fazem o mesmo. Na segunda-feira, o Hospital São Francisco, de Restinga Sêca, fechou a ala Covid, mas deixou dois leitos isolados de retaguarda. Há dois dias, o município não registrou novos casos e não tem casos ativos de Covid-19. Em São Pedro do Sul, o Hospital Municipal teve atitude semelhante.
- Nós já diminuímos a equipe. Como a gente fez uma divisão estrutural no hospital, deixamos seis leitos de retaguarda que ficam mais protegidos, isolados. Essa estrutura ficou mantida por um tempo, por precaução. Tínhamos alguns contratos temporários na equipe, que foram reduzidos, até por uma questão de custo - explica Bruno Pinheiro, secretário de Saúde do município. Antes, eram mantidos oito leitos.O Hospital Nossa Senhora da Piedade, em Nova Palma, deve seguir a mesma tendência. Na quarta-feira, uma reunião decidiu diminuir de 12 para seis o número de leitos Covid. Os demais serão direcionados para outras especialidades. Não há pacientes contaminados no local pelo menos desde a semana passada. A medida será debatida também em Cacequi. Por enquanto, os 10 leitos Covid da Associação Santo Onofre estão mantidos, mesmo sem pacientes internados.
Mas também há hospitais que adotam cautela e ainda mantém a estrutura completa das unidades Covid. É o caso do Hospital de São Vicente do Sul, onde não há previsão de redução dos cinco leitos. No Hospital Bernardina Salles de Barros, em Júlio de Castilhos, os 21 leitos covid seguem ativos, mas não há pessoas internadas desde 27 de julho. Também não há nenhum paciente com Covid no Hospital de Caridade Brasilina Terra, em Tupanciretã. Os 16 leitos permanecem ativos.
LEITOS DE UTI SÃO MANTIDOS
Entre os hospitais com UTI da região, a baixa demanda também tem provocado mudanças estruturais. Entretanto, apenas um reduziu a oferta de leitos de UTI para pacientes com Covid-19. Foi o Hospital Santa Lúcia, de Cruz Alta, que atende convênios particulares. Na última segunda-feira, apenas um paciente com Covid-19 estava internado na UTI. O hospital mantém apenas seis leitos clínicos e três de UTI voltados para o atendimento à Covid. Anteriormente, no pico da pandemia eram 12 de UTI e 32 clínicos. No outro hospital da cidade, o São Vicente de Paulo, ainda não houve alteração.No Hospital de Caridade de Santiago, houve redução em leitos clínicos.
- Na segunda-feira, fechamos uma unidade com 26 leitos clínicos e abrimos para a rotina do hospital. Ficamos com apenas uma ala Covid, com 16 leitos. Os dois pacientes internados foram para outra unidade - explica o administrador da instituição, Ruderson Mesquita Sobreira.
Outros 26 leitos de UTI seguem em funcionamento.Em Faxinal do Soturno, o Hospital São Roque também estuda o fechamento de leitos de UTI. Por enquanto, a instituição segue com 10 leitos de UTI e 20 clínicos. Entretanto, esses leitos são ocupados também por pacientes de outras especialidades, como traumatologia. Na terça-feira, pela manhã, apenas dois pacientes com Covid estavam na UTI e outro em leito clínico.
Em Rosário do Sul, o Nossa Senhora Auxiliadora conta com oito leitos de UTI Covid, e três estavam ocupados na terça-feira. Já nos leitos clínicos, não há nenhum paciente nas 42 vagas. Ainda assim, por enquanto, não há previsão para a redução de leitos, apesar da baixa demanda.
- Percebemos uma queda, tanto de atendimento quanto internação, desde a primeira quinzena de julho, com o avanço da vacinação - afirma Jair Rocha Oliveira, enfermeiro e assessor técnico da Secretaria de Saúde do município.
A situação é a mesma da Santa Casa de São Gabriel, que chegou a fechar a ala Covid em junho por falta de profissionais. Os 10 leitos de UTI Covid seguem em operação, com 50% de ocupação. Conforme o hospital, há um cenário de estabilidade, com números de internados menores que dos últimos meses.EM SANTA MARIA
Os leitos em Santa Maria também foram reduzidos. No pico da doença, chegaram a existir 119 leitos de UTI Covid em quatro hospitais. O número caiu para 68, puxados, principalmente, pela redução dos leitos particulares. O Complexo Hospitalar Astrogildo de Azevedo desocupa a unidade Covid da ala Alcides Brum, mas mantém 10 leitos exclusivos para a doença. Já o Hospital São Francisco retomou atendimento geral para os leitos de UTI em 20 de junho. Desde março, os leitos eram usados exclusivamente no tratamento Covid.Já o Hospital Universitário de Santa Maria (Husm) fechou a enfermaria Covid nas últimas semanas, mas segue com 20 leitos de UTI. Conforme a instituição, pacientes clínicos ainda são atendidos, caso necessário, e colocados em leito de isolamento. Nove pacientes confirmados com a Covid-19 estavam internados na quinta-feira.
O Hospital Regional segue com 38 leitos de UTI, sendo 18 ocupados na manhã de quinta. Dos 60 leitos clínicos, apenas 11 estavam em uso.
NO SUS, CORTE DE VAGAS DEPENDE DE AVALIAÇÃO TÉCNICA
Conforme informações da Secretaria Estadual da Saúde (SES), alterações na disponibilidade de leitos clínicos não dependem de habilitação do Estado, o que facilita alterações no caráter do atendimento. Entretanto, para desabilitar um leito de UTI, o processo é mais burocrático e demorado, o que pode explicar o fato de que hospitais públicos ainda não fizeram alterações. O hospital precisa solicitar a desabilitação através de ofício, que é avaliado pela área técnica do Departamento de Gestão da Atenção Especializada conforme o cenário epidemiológico. Entre os critérios, estão a taxa de ocupação, a variação semanal de casos confirmados, a variação semanal de óbitos, de leitos clínicos, o índice de vacinação e a situação da região no Sistema 3 As.Já os leitos clínicos podem ser realocados para o seu perfil inicial, de atendimento de pacientes clínicos ou cirúrgicos. Colaboraram Caroline Miranda, Janaína Wille e Leonardo Catto fonte https://diariosm.com.br/